O Museu de Arte de Rua (MAR) é um projeto da prefeitura de São Paulo onde diversos artistas são selecionados e suas artes espalhadas pelas ruas da cidade.
Por: Raissa Auxiliadora
Foto: Sob Azul, Alex Senna/ MAR360
O Museu de Arte de Rua (MAR) é uma iniciativa da Secretaria de Cultura em parceria com diversas subprefeituras e, por meio de editais, promove a divulgação da arte de rua, distribuindo em prédios, viadutos e muros das cinco macrorregiões paulistanas. O esboço do que hoje é o projeto do MAR foi idealizado pela administração do então prefeito de São Paulo João Dória no início do ano de 2017, diante da crescente onda de críticas à sua gestão
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pelo posicionamento autoritário ao ter apagado murais de artistas nas regiões da capital paulista. Essa proposta acompanha a tendência global de valorização das expressões artísticas realizadas em espaços públicos por artistas e ativistas independentes, como o Urban Nation Museum for Contemporary Art, em Berlim.
Arte de rua ou Street Art
O conceito de Street Art, foi popularizado nos Estados Unidos e traz o conceito de arte sem necessidade de movimento social, reconhecimento ou ainda apoio privado ou público, uma vez que o artista se expressa de modo independente em uma espaço simples: a rua. No entanto, é válido ressaltar que a arte de rua muitas vezes possui caráter social dado que denuncia e critica mazelas coletivas e é um movimento que pela sua premissa de ser realizada e permanecer no espaço da rua, é acessível e não distingue política, econômica e socialmente o público que a consome. São alguns exemplos de arte de rua mural, graffiti, stencil, lambe-lambe, fotografias, danças e intervenções de obras visuais e essas expressões artísticas podem ser admiradas em diversos pontos turísticos no mundo inteiro como no Chile, França, Alemanha e Estados Unidos.
Foto 1: iStock palliki / Foto 2: iStock JillianCain
MAR 360º
No ano de 2020, o MAR passou a ser mais acessível por meio da plataforma MAR 360º, onde é possível acessar a obra de diversos artistas navegando pelo mapa ilustrativo. Na primeira edição do projeto foram assistidas pela plataforma cerca de trinta obras e na segunda edição, a iniciativa passou a divulgar virtualmente quarenta obras nas regiões das zonas sul, norte, leste, oeste e centro. A iniciativa da criação da plataforma nasceu no fim de 2020 em meio a segunda onda de contaminação do vírus da covid-19 e após pequenas flexibilizações por meio do governo do estado. Com o MAR 360º moradores de todo o mundo podem acessar diversas expressões culturais nos mais de 100km do tour virtual pela cidade de São Paulo.
A criação de museus que valorizem a arte de rua não é novidade no mundo, mas a criação de uma plataforma virtual para facilitar o acesso a essas intervenções é uma iniciativa inédita. A construção da plataforma levou mais de três meses desde a etapa de fotografia das empenas de prédios e murais, todas em qualidade 12k até a elaboração da plataforma, com tecnologia conhecida como giroscópio que permite ao internauta se sentir presente no espaço onde se encontra a arte. Entre os diversos obstáculos enfrentados pela Triarts New Media, empresa responsável pelo projeto da construção da plataforma, estão o cenário da pandemia de covid-19, artistas reclusos e autorização de sobrevoo de drones pela ANAC em locais próximos a aeroportos.
A parte gráfica do projeto foi realizada pela mestra em artes pela UFMG, Suryara Bernard e a trilha sonora ficou sob a responsabilidade do artista Tejo Damasceno, conhecido no meio musical como produtor que trabalhou com artistas nacionais como Racionais MCs, Nação Zumbi, Sabotage e o artista norte americano Diplo. No que se refere às artes expostas na plataforma, alguns artistas são já bastante conhecidos do público paulistano como Speto, Alexandre Orion e Mundano, entre outros mais de quarenta artistas e coletivos.
Foto: Reprodução/MAR 360º
MAR 360º e a pandemia
A utilização de meios virtuais para entretenimento, comunicação e bem-estar ganharam notoriedade no momento de isolamento social, tendo em vista que o ser humano precisa da vida em sociedade e a ausência da interação com outros iguais traz consequências sérias à saúde mental e psicológica de cada um, como observa Belinda Mandelbaum, professora do Instituto de Psicologia da USP.
A plataforma do MAR 360º permite o acesso do público a obras de artistas e ativistas brasileiros com apenas cliques em qualquer ponto do mundo por meio de aparelhos celulares, tablets ou computadores conectados à rede. A navegabilidade é simples e não necessita de conhecimento prévio geográficos da cidade e durante a pandemia permitiu a difusão cultural além de trazer esperança, alento e homenagens aos profissionais de saúde e entregadores.
Em setembro de 2020 foram entregues cerca de quarenta obras, dentre elas vinte e três foram destinadas ao tema da pandemia homenageando todos que prestaram serviços essenciais e lutaram contra a pandemia. O Hospital das Clínicas recebeu a intervenção dos artistas Waldir Grisolia e Roberto Alves e o Instituto do Coração abrigou a obra de quatrocentos metros quadrados intitulada “Saudações”, do artista Alexandre Orion.
Foto 1: Waldir Grisolia e Roberto Alves/ FOLHA Foto 2: Saudações Alexrande Orion/UOL
Pelo mundo foi e ainda é possível notar manifestações artísticas relacionadas à nova realidade global ocupando as ruas, que antes estavam por muito tempo desertas. Na cidade de Catânia, ao sul da Itália, Monalisa ganhou uma versão com seu famoso sorriso coberto por uma máscara e em Melbourne, na Austrália, um enfermeiro com asas de anjo carrega o mundo. A pandemia acelerou a proximidade da arte ao meio virtual. Artistas puderam conhecer outros artistas e patrocinadores pelo mundo, galerias atingiram mais seu público que hoje pode acessar o maior número de trabalhos artísticos via internet. A arte e os artistas agora estão ali, a um clique de distância e em pequenas janelas na tela do celular.
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